maio 29, 2011

A Rainha no Palácio das Correntes de Ar - Stieg Larsson

Título original: Luftslottet Som Sprängdes
Ano da edição original: 2007
Autor: Stieg Larsson
Tradução do Inglês: Mário Dias Correia
Editora: Oceanos

Contém spoilers
"Lisbeth Salander sobreviveu aos ferimentos de que foi vítima, mas não tem razões para sorrir: o seu estado de saúde inspira cuidados e terá de permanecer várias semanas no hospital, completamente impossibilitada de se movimentar e agir. As acusações que recaem sobre ela levaram a polícia a mantê-la incontactável. Lisbeth sente-se sitiada e, como se isto não bastasse, vê-se ainda confrontada com outro problema:o pai, que a odeia e que ela feriu à machadada, encontra-se no mesmo hospital com ferimento menos graves e intenções mais maquiavélicas...
Entretanto, mantêm-se as movimentações secretas de alguns elementos da Säpo, a polícia de segurança sueca. Para se manter incógnita, esta gente que actua na sombra está determinada a eliminar todos os que se atravessam no seu caminho. Mas nem tudo podia ser mau: Lisbeth pode contar com Mikael Blomkvist que, para a ilibar, prepara um artigo sobre a conspiração que visa silenciá-la para sempre. E Mikael Blomkvist também não está sozinho nesta cruzada: Dragan Armanskij, o inspector Bublanski, Anika Gianninni, entre outros, unem esforços para que se faça justiça. E Erika Berger? Será que Mikael pode contar com a sua ajuda, agora que também ela está a ser ameaçada? E quem é Rosa Figueirola, a bela mulher que seduz Mikael Blomkvist?"
Fim dos spoilers. ;)

Chega assim ao fim a Trilogia Millennium. Trilogia que teria sido decalogia não tivesse o autor, Stieg Larsson, falecido antes de terminar o quarto dos dez livros que tinha planeados com Lisbeth e Mikael Blomkvist. Aqui entre nós que ninguém nos ouve, por muito que tenha gostado da Lisbeth e companheiros, dez volumes teriam sido um exagero. Achei até que este terceiro poderia ter sido bem mais pequeno... :)

Este terceiro volume começa exactamente onde o anterior acabou. Lisbeth, depois de no segundo volume ter regressado do mundo dos mortos, dá entrada no hospital em estado considerado muito grave. Com uma bala alojada no crânio, os médicos não se atrevem a avançar prognósticos. No mesmo helicóptero que a levou ao hospital viaja o homem que a pôs entre a vida e a morte, também ele bastante ferido, e que tem sido a causa de todos os problemas que Lisbeth já enfrentou na vida. Irá Lisbeth recuperar, sem sequelas, dos ferimentos? Será essa a única preocupação de Lisbeth enquanto estiver internada no hospital? Ou o homem que quase a matou vai, mais uma vez tentar acabar com a vida de Lisbeth?
Enquanto Lisbeth, no hospital, luta para sobreviver, cá fora Mikael Blomkvist continua a trabalhar num artigo que vai ajudar a ilibar Lisbeth de todas as acusações que pendem sobre ela e que terá de enfrentar assim que estiver em condições de receber alta médica. O artigo em que Mikael Blomkvist está a trabalhar envolve pessoas que pertencem à Polícia Secreta sueca, a Säpo, e que vão fazer tudo para impedir qualquer investigação sobre os podres da Companhia. Portanto, Lisbeth está entre a vida e a morte no hospital, Mikael e todos na redacção da Millennium são ameçados e perseguidos por causa do artigo e, para ajudar à festa, Erika Berger tem à perna um tarado qualquer que a persegue e ameaça. Um livro cheio de coisas boas, portanto. :)
Sobre a história mais não digo sob pena de spoilar toda a trilogia. :) Cuidado que a sinopse não tem e que pode, inclusive, estragar algumas revelações do segundo volume, para quem ainda não o leu. Para além de ser uma sinopse que levanta falsas questões, mas isso é outra história. :)

Confesso que este último livro não me convenceu, achei-o demasiado extenso e a história não foi exposta de uma forma cativante, Lisbeth quase não aparece e Mikael, aparecendo mais, pareceu-me menos interessante que nos primeiros dois livros e é, neste livro, até um pouco irritante. As histórias que giram à volta da conspiração contra Lisbeth têm algum interesse, mas estão de tal forma rodeadas de informação secundária que parece que estamos a ler um livro sobre a história da polícia secreta sueca. Este livro pedia acção e um ritmo mais acelerado, o que nos outros livros não me fez assim tanta falta. No fundo acho que este livro poderia ter ganho se fosse mais sucinto e mais objectivo. Stieg Larsson quis falar de tanta coisa, introduziu tantas personagens, que a história de Lisbeth perdeu alguma consistência.
Para além disso a história do tarado que persegue Erika Berger e todos os outros dilemas que esta atravessa ao longo deste livro não me interessaram por aí além e senti-os apenas como distracções. Erika sempre me foi algo indiferente, pelo que o seu maior protagonismo neste livro fez com que a minha leitura se ressentisse um pouco. Para além disso, Mikael Blomkvist neste livro pareceu-me demasiado convencido, muito presente na história mas com uma presença muito superficial, muito pouco emotiva e sem empatia com as outras personagens. Mais uma consequência da ânsia do autor de falar de tudo e mais alguma coisa, tornando a história demasiado tentacular, notando-se que sentiu alguma dificuldade em fechar todas as frentes que abriu.

Enfim, o livro tem coisas boas, como é óbvio, tudo o que me fez gostar e querer ler a trilogia está também neste terceiro volume, mas a verdade é que neste o equilíbrio entre a história central e todos os temas paralelos não foi tão bem conseguido. Não é mau, mas podia ser bem melhor. :)

Recomendo a trilogia mas, como já o referi antes, nunca ao preço de editora que sobrevaloriza e muito estes livros. Leiam se tiverem oportunidade, mas se não o fizerem não vem daí mal ao mundo! :)

Boas leituras!


Excerto:
"Faltava pouco para a uma e meia quando Hanna Nicander, uma das enfermeiras, acordou o Dr. Anders Jonasson.
- Que se passa? - perguntou ele, ainda meio atordoado.
- Helicóptero a chegar. Dois pacientes. Um homem já de idade e uma rapariga; ela com ferimentos de bala.

- Já vou, já vou - resmungou Jonasson, cansado."


Deixo-vos os trailer do terceiro filme:


Não posso deixar de expressar a minha estranheza por Stieg Larsson descrever o Blomkvist como um homem extremamente bem parecido e a quem as mulheres dificilmente resistem. Tendo visto os filmes é inevitável que a imagem de Blomkvist que eu tenho na minha cabeça seja a do actor que o representa no filme e, não querendo discutir gostos, que todos sabemos que não se discutem, a verdade é que o actor está longe de ser irresistível! Tirando a imagem dos actores que são diferentes da imagem que Stieg Larsson transmitiu nos livros, os filmes estão bastante fieis a eles e vale a pena ver, principalmente porque a interpretação da actriz Noomi Rapace, que faz de Lisbeth Salander, é digna de ser ver. :)

maio 15, 2011

A Rapariga que Sonhava Com Uma Lata de Gasolina e Um Fósforo - Stieg Larsson

Título original: Flickan Som Lekte Med Elden
Ano da edição original: 2006
Autor: Stieg Larsson
Tradução do Inglês: Mário Dias Correia
Editora: Oceanos

"Depois de uma longa estada no estrangeiro, Lisbeth Salander regressa à Suécia, cede o pequeno apartamento onde vivia à sua amiga Miriam Wu, e instala-se luxuosamente numa zona nobre da cidade. Pela primeira vez na vida é economicamente independente, mas cedo percebe que o dinheiro não é tudo: não tem amigos, nem família e está só. Mikael Blomkvist, que tentara contactar Lisbeth Salander durante meses, sem sucesso, desiste e concentra-se no trabalho. À Millennium chegou material para uma notícia explosiva: o jornalista Dag Svensson e a sua companheira Mia Johansson entregam na editora dois documentos que provam o envolvimento de personalidades importantes numa rede de tráfico de mulheres para exploração sexual. Quando Dag e Mia são brutalmente assassinados, todos os indícios recolhidos no local do crime apontam um suspeito: Lisbeth Salander. O seu passado sombrio e pouco convencional não abona a favor da sua imagem e a polícia move-lhe uma implacável perseguição. Lisbeth Salander, que está disposta a romper de vez com o passado e a punir aqueles que a prejudicaram, tem agora de provar a sua inocência e só uma pessoa parece disposta a ajudá-la: Mikael Blomkvist que, apesar de todas as evidências, se recusa a acreditar na sua culpabilidade."

E Lisbeth Salander volta, neste segundo livro da trilogia, para me fazer companhia. Companhia estranha, é certo que por vezes perturbadora, mas essencialmente boa companhia. Lisbeth continua, neste livro, a ser uma personagem que me fascina. Gosto realmente desta rapariga! :)

Em A Rapariga que Sonhava Com Uma Lata de Gasolina e um Fósforo (mais um título muitíssimo bem escolhido), encontramos Lisbeth multimilionária, depois de no livro anterior ter desviado uns quantos milhões ao corrupto Wennerström, que regressou recentemente à Suécia e não sabe muito bem como se adaptar à sua nova condição de muito rica. A Lisbeth que encontramos está mais madura e aparentemente mais equilibrada e serena. Depois de um ano fora, ela não é esperada por ninguém, as poucas pessoas que se preocuparam com o seu desaparecimento súbito, já haviam desistido de a procurar e seguiram com as suas vidas. Foi o caso de Mikael Blomkvist, que depois de várias e infrutíferas tentativas para a encontrar se rendeu à evidência de que ela não desejava ser encontrada por ninguém, muito menos por ele.
É penosa a solidão e o desamparo de Lisbeth, na fase inicial do livro, mais ainda porque é uma solidão evitável, uma vez que existe quem se preocupe e goste dela.

As vidas de Mikael e Lisbeth voltam a cruzar-se quando Dag Svensson e Mia Johansson são assassinados e a principal suspeita é Lisbeth.
Dag era um jornalista que estava a escrever um livro, a ser editado pela Millennium, sobre o tráfico de mulheres, algumas menores, na Suécia e Mia, namorada de Dag, estava em vias de terminar a sua tese de doutoramento sobre o mesmo tema. Ambos pretendiam revelar e expor publicamente figuras importantes da vida política e social sueca, envolvidas no tráfico de mulheres e comércio sexual das mesmas. Mikael Blomkvist vê-se de repente envolvido em mais uma corrida contra o tempo, enquanto tenta provar a inocência de Lisbeth e ao mesmo tempo encontrar o verdadeiro responsável pelo crime que vitimou os seus dois amigos. O historial de violência e o internamento de Lisbeth numa clínica psiquiátrica, que foi a sua casa na adolescência, não vão facilitar a tarefa de Mikael, muito menos com a polícia e a opinião pública sueca a considerarem-na uma sociopata tresloucada que nunca deveria ter tido alta da clínica. Enquanto isso, Lisbeth vai fazendo a sua própria investigação mais com o intuito de encontrar Zala, um nome ligado ao seu passado e que surgiu associado ao tráfico de mulheres que Mia e Dag investigavam, do que para provar a sua inocência. Chega inclusive a afirmar que não é inocente, isto porque "Não há inocentes. Há apenas diferentes graus de responsabilidade."
Lisbeth não tem, nem nunca teve, uma vida fácil e neste livro ela inicia uma viagem ao passado para o resolver definitivamente. Deixar de fugir ou de se esconder deixou de ser opção. Conhecendo Lisbeth, sabemos de antemão que as coisas não vão correr bem para muita gente e a própria Lisbeth irá passar por situações de vida ou morte.
E acho que não vale a pena dizer mais nada acerca da história do livro, até porque o giro é ser-se surpreendido. :)

À semelhança do Os Homens que Odeiam as Mulheres, já lido e comentado aqui, Stieg Larsson não tem qualquer pressa em avançar para a acção, perde-se em pormenores e histórias paralelas, o que provavelmente acaba por afastar alguns leitores menos pacientes. E mesmo o mais pacientes (caso da que aqui vos escreve) por vezes sentem alguma impaciência pela calma que define todo o livro, pelos desvios que distraem e que nos afastam da acção e da vida das personagens. No entanto confesso que, depois de lido, a impressão que fica é a de que acabámos de ler um livro com mais de 600 páginas, sem qualquer esforço e as personagens eram reais e estiveram sempre muito próximas. E isso é positivo. :)
É claro que existem passagens do livro que são perfeitamente dispensáveis, como a da descrição de um Mikael deslumbrado com a máquina de café topo de gama que Lisbeth tem no novo apartamento. Dispensável é também a muita publicidade que se faz ao IKEA e à Apple e passava bem sem saber que Bublanski e Modig (polícias destacados para a investigação criminal) foram ao Burger King e comeram um Whooper e um Veggie Burger, respectivamente. Enfim, distracções dispensáveis mas que não pesam muito na opinião final acerca do livro.

Gostei! E gostei porque está bem escrito, porque gosto muito da forma como o autor vai construindo a história e da forma como no final as peças do puzzle encaixam na perfeição. Porque e, mais uma vez o tema é a violência sobre as mulheres e nunca é demais alertar para qualquer tipo de violência, quer seja sobre as mulheres quer seja sobre homens ou crianças. Neste livro agradou-me especialmente que o desenrolar da história fosse credível, coisa que nos livros do género não é muito comum. Excepção feita para a sensação de que a Suécia só pode ser minúscula, porque toda a gente se conhecia... :) Gostei que me permitisse ter uma imagem da Suécia e dos suecos mais realista, atenuando um pouco a imagem de que os países nórdicos são perfeitos e infalíveis. Mas o que me faz dizer que gostei sem grandes hesitações, é a personagem da Lisbeth. Gosto dela, e sei que é das poucas personagens que me vai ficar pela memória, quando tiver acabado de ler a trilogia. Aliás, uma das críticas menos boas que posso fazer ao livro é mesmo ter achado que, sendo um livro centrado nela, a presença dela poderia ter sido mais evidenciada e explorada.
Finalmente, gostei porque mesmo já tendo visto os filmes e, portanto já conheça o fim da trilogia, o prazer da leitura não foi muito afectado e, só posso imaginar e invejar, confesso, o friozinho na barriga que certas passagens mais tensas poderão provocar. Mesmo nestas condições, gostei do livro e mesmo nestas condições vou ler já a seguir o terceiro e último livro da trilogia.

Posto isto, só posso dizer para lerem! ;)


Excerto:
"Estava deitada de costas, presa por correias de couro à armação de ferro da cama estreita. As correias, cruzadas, apertavam-lhe o peito, e tinha as mãos algemadas aos lados do catre.
Havia muito que desistira de tentar libertar-se. Estava acordada, mas tinha os olhos fechados. Se os abrisse, ver-se-ia, envolta em escuridão; a única luz era uma débil risca amarelada que se filtrava por cima da porta. A boca sabia-lhe mal e ansiava por poder lavar os dentes."

Trailer do filme baseado no segundo volume da trilogia e bastante fiel à história:

maio 13, 2011

Feira do Livro de Lisboa 2011

Como não pretendo voltar à Feira do Livro e este é o último fim-de-semana de estadia no Parque Eduardo VII, vou partilhar já as minhas aquisições deste ano.

(De baixo para cima)
  • A Ilha do Dia Antes - Umberto Eco
  • Inés da Minha Alma - Isabel Allende
  • A Ponte Sobre o Drina - Ivo Andric
  • Ernestina - J. Rentes de Carvalho
  • A Máquina de Fazer Espanhóis - Valter Hugo Mãe
  • O Jogador - Fiódor Dostoiévski
Para oferta comprei ainda:
  • Frágil - Jodi Picoult
  • Ilha Teresa - Richard Zimler
A Máquina de Fazer Espanhóis devidamente autografado pelo simpático Valter Hugo Mãe que, por coincidência, estava a dar autógrafos no dia em que por lá passei.

Por estar a trabalhar muito perto da feira, este ano fui lá mais vezes, quase todos os dias, para espreitar os livros do dia e para aproveitar o bom tempo que este ano ajudou à festa. :)
Devido à proximidade tive de me conter muito para só trazer aquilo que realmente queria e a preços bem mais simpáticos. O único que não foi comprado como livro do dia, ou em alfarrabistas, foi o Ernestina do J. Rentes de Carvalho. Já o queria comprar há algum tempo e os 2€ ou 3€ que tinha de promoção para mim bastaram. :)

Tive pena de não ter comprado nada para as minhas sobrinhas. Eu bem que olhei para as barraquinhas dedicadas aos mais pequenos mas não vi nada que me parecesse adequado para elas. É extremamente difícil comprar livros para crianças ou sou eu que sou esquisita? Para a mais pequena (10 meses) não achei que houvesse muita oferta e para as mais crescidas (20 meses) pareceram-me todos para meninos mais velhos. Outros eram daqueles que "pedem" para ser rasgados, demasiado frágeis para as mãos das pestinhas! :p Enfim, acho que me safo melhor numa livraria, onde posso mexer mais à vontade e ponderar todos os perigos que poderão ou não correr nas mãos das princesas. :)

Estou muito satisfeita com as minhas compras! E é bom que o esteja porque a compra de livros está suspensa por tempo indefinido. Não gosto de ter muitos livros por ler e a pilha está maior que nunca! :)

Boas leituras!!!!! :)